Sunday, 26 November 2023

O Bordel : Fraternidade Socialista do Véu Dourado

Num país, abraçado pelo mar, ergue-se um edifício antigo cujas paredes de pedra são as guardiãs de séculos de história. Chamam-no 'O Bordel', um pequeno universo que reflete a sociedade em que se insere. Neste lugar, cada indivíduo, de forma consciente ou não, é uma peça no complexo jogo do poder. O Bordel atrai pela promessa de privilégios e pelo mistério das sombras que lança sobre quem nele entra.

Neste país, a linguagem popular é falada com orgulho. Figuras proeminentes e líderes são ornadas com alcunhas ricas e diversificadas, que se ajustam a estes na perfeição. Cada alcunha é entendida como um distintivo, uma condecoração de honra que adorna o peito da sua audácia, ostentada com um orgulho quase teatral. É habitual encontrar alcunhas como 'Cabrão', com suas conotações astutas, 'Espírito Santo', evocando uma aura quase mística, e 'CEO', sinónimo de poder e autoridade. São apenas alguns exemplos que encontraremos nesta fábula.

Neste reduto de acordos e conveniências, ecoa o reflexo da alma de uma sociedade onde não se traficam corpos, mas sim ideais, e a própria essência do ser. No Bordel, cada alma se imiscui neste negócio de convicções e compromissos, trocando a sua dignidade por um lugar na dança incessante onde a principal moeda é a influência e o domínio.

Há os que se entregam a esta dança por pura volição, seduzidos pelo brilho do poder e encanto pela influência. Encaram a prostituição das suas convicções como um jogo astuto de vaidades, onde cada movimento é uma tentativa de aplacar a ressaca inexorável a que foram condenados, sem vislumbre de escape.

Ao lado destes, caminham os que se veem empurrados para este mercado de almas por uma necessidade pungente. São almas que se prostituem não por desejo, mas por falta de opções, vítimas das circunstâncias ou do destino, entregando pedaços de si em troca de um lugar à mesa.

Eis também os que, na sua inocente ignorância, não se apercebem que a sua integridade é negociada a cada passo. Movem-se entre os corredores do Bordel, como marionetas desprovidas do fio condutor que as devia guiar, cada decisão um ato inconsciente, cada compromisso um passo cego numa dança de conveniências.

Outros, ainda, veem na sua prostituição um dever quase divino, um sacrifício em nome de um bem maior, muitas vezes com contornos nebulosos, que conflituam com as suas próprias convicções. Para estes, cada concessão é um ato de heroísmo, cada traição de si mesmos, um hino em nome do que consideram justo e necessário.

Por fim, surgem os que sempre viveram do comércio da ‘dignidade’, moldados pela tradição e expectativas, incapazes de vislumbrar um caminho que não passe pela eterna troca de favores e promessas. São almas tão entranhadas neste jogo que a própria ideia de uma existência diferente lhes parece uma fantasia.

Assim, no Bordel, desenrola-se a tragicomédia da vida social, um teatro de sombras onde cada personagem nesta Irmandade obscura , consciente ou não, desempenha o seu papel numa farsa encenada, um reflexo irónico e mordaz de uma sociedade que se despoja da sua integridade e dignidade.

Tecido no cerne da estrutura secular do Bordel, repousam oito Irmandades, cada uma ostentando uma bandeira, com a sua identidade e influência. Entre elas, a primeira Irmandade destaca-se, não só pela sua preponderância, mas também pela tessitura complexa das suas contradições e sensibilidades. Nela milita um diversificado espectro dos anteriormente mencionados estereótipos de prostitutos, uma amálgama de personagens que, com suas múltiplas facetas, encarnam as nuances e desafios do jogo de poder que se desenrola no Bordel.

A ‘Fraternidade Socialista do Véu Dourado’, a maior irmandade marcada pela sua singularidade e complexidade. Dentro desta irmandade, destaca-se um trio de notáveis, cada um com um conjunto de peculiaridades e influências.

Entre elas, encontra-se o ‘Cabrão’, um personagem fascinante à sua maneira. O Cabrão é a personificação do populismo, um indivíduo que fala de forma despojada e não refinada, capaz de dominar as conversas, com uma oratória acessível e envolvente. Apesar da sua aparência despretensiosa, ele é um adepto dos pequenos favores, daqueles pequenos gestos que, no entrelaçar da política e do cotidiano, granjeiam apoios e consolidam a sua posição.

O Cabrão, com o seu jeito esperto e sagaz, dá a impressão de ser um estrategista nato, mas essa mesma sagacidade parece cegá-lo (ou talvez convença-o a se fazer de cego) para os casos pouco claros e corruptos que orbitam ao seu redor. A sua habilidade reside em manobrar-se habilmente neste jogo de poder, mantendo-se sempre um passo à frente dos rumores e suspeitas, sem nunca se deixar enredar totalmente neles.

Este personagem, com sua linguagem fácil e postura de 'homem do povo', representa uma faceta intrigante da ‘Fraternidade Socialista do Véu Dourado’. Contudo, é impossível ignorar o paradoxo que define o Cabrão. Embora reivindique ser um democrata, a sua conduta é frequentemente o oposto do seu discurso. Com um engenho notável, ele tem uma capacidade quase artística em dar o dito por não dito, desviando habilmente as culpas para outras Irmandades, um autocrata camaleão que se adapta conforme as circunstâncias. Assim, apesar das suas contradições e ambiguidades, desempenha um papel fundamental na dinâmica e na influência desta Irmandade dentro do Bordel.

Outra personalidade é o ‘Mal Parido’, uma figura que, à primeira vista, parece favorecer o diálogo e a moderação, distante de radicalismos. No entanto, a sua história é pontuada pela submissão e modéstia, paradoxalmente acompanhando aqueles envolvidos nos maiores escândalos de corrupção do passado. Com um discurso medianamente articulado, Mal Parido usa estratégias semelhantes às dos mestres que outrora seguiu, tentando apagar seu passado como alguém que parece ter sido parido sem as qualidades dos demais para se afirmar num ambiente hostil, onde o compadrio e a falta de coluna dorsal são predicados. De forma atabalhoada, tenta impor-se como diferente, mais moderado, mas ao mesmo tempo sempre acompanhou, andou a reboque daqueles que são o oposto do que pretende ser.

Junto a estas figuras notáveis, surge o ‘Catraio’, um indivíduo que se auto-proclama defensor acérrimo dos mais fracos, um arauto da democracia e do intervencionismo do Bordel na vida desta sociedade. Ele defende com fervor a ideia de que o Bordel deve intervir para corrigir as dificuldades dos mais fracos, opõe-se veementemente à iniciativa privada. No entanto, a sua conduta e vivência contam uma história diferente.

Catraio é conhecido por ser um privilegiado, um menino mimado, cujo conhecimento das dificuldades da vida se limita aos parcos livros que leu e aos testemunhos que ouviu. Apesar de defender a ostracização da iniciativa privada, ele próprio, filho de um empresário, paradoxalmente beneficiando e praticando tudo aquilo que publicamente critica. Neto de um liberal artesão que prosperou, permitindo assim que as dificuldades não tocassem no seu pai e, por consequência, nele próprio.

O objetivo do Catraio não parece ser, o ter sucesso por mérito próprio, mas sim pela derrota dos outros, uma competição desenfreada pelo simples prazer da derrota alheia. No passado, foi responsável por investimentos avultados em projetos megalómanos para controle de uma companhia, que, ironicamente, logo após quis reverter, demonstrando uma falta flagrante de maturidade e desenvolvimento emocional a que se lhe deve a alcunha. Essa sua postura, acompanhada pela irresponsabilidade e iliteracia nos fundamentos económicos, são traços marcantes da sua personalidade.

Assim, Catraio, uma figura contraditória, que, apesar de se vestir com o manto do defensor dos desfavorecidos, revela nas suas ações e no seu passado uma realidade bem diferente, marcada pelo privilégio e pela desconexão com as verdadeiras lutas e desafios dos que afirma representar.

Proximo Capitulo : Batalhão da Expropriação

 
Aviso:
O conteúdo apresentado neste texto é inteiramente ficcional. Qualquer semelhança com eventos reais, locais ou pessoas, vivas ou falecidas, é mera coincidência. As personagens e os acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor e não devem ser interpretados como reais.

Sunday, 19 November 2023

Reafirmando os Pilares da Política numa Era de Desafios

Vivemos momentos ímpares na nossa história política, caracterizados por intensos antagonismos e rivalidades. No entanto, é essencial relembrarmos alguns dos princípios que devem orientar a política: Liberdade Individual, Governo restrito às funções essenciais, Mercado Livre, Estado de Direito, Responsabilidade Individual, Igualdade de Oportunidades e Propriedade Privada.

Recentemente, fomos confrontados com declarações de figuras públicas como Pedro Nuno Santos do Partido Socialista, que afirmou: “Nós estamos concentrados exclusivamente em derrotar a direita e o PSD e é nesse cenário que trabalhamos". Esta abordagem, focada na vitória sobre a oposição política, embora compreensível, desvia-se do cerne da democracia, que é o diálogo e o respeito por todas as vozes. A democracia é fortalecida pela diversidade e pelo debate construtivo, não pela marginalização de opiniões divergentes.

Ao longo da história, temos visto exemplos em que políticas liberais, caracterizadas pela promoção da liberdade individual e pela limitação do papel do governo, contribuíram significativamente para o desenvolvimento sustentável e a prosperidade de nações. Tais exemplos, que vão desde o milagre econômico pós-guerra da Alemanha até as reformas de mercado na Nova Zelândia nos anos 80, demonstram a eficácia desses princípios.

Encorajo Pedro Nuno Santos, e todos os líderes políticos, a adotarem uma postura mais inclusiva e dialogante. Uma abordagem que transcenda as divisões ideológicas de direita e esquerda, liberal e conservadora, é essencial na busca de soluções para os desafios presentes e futuros. Assim, poderemos construir uma sociedade mais justa, próspera, verdadeiramente democrática e livre.

Hoje temos a oportunidade para uma reflexão profunda e uma reafirmação dos nossos valores mais caros. A liberdade individual, um governo focado apenas no essencial, a vitalidade de um mercado livre, o respeito incondicional pelo Estado de Direito, a nobreza da responsabilidade individual, a justiça da igualdade de oportunidades e a segurança da propriedade privada não são apenas a espinha dorsal de uma sociedade liberal, mas também o coração de qualquer democracia verdadeira.

As declarações como as de Pedro Nuno Santos, que prioritizam a disputa política em detrimento da valorização da diversidade, lembram-nos da importância de não nos desviarmos dos valores que tanto prezamos. A essência da democracia, seja ela liberal ou socialista, reside na diversidade das vozes e ideias. Em Março de 2024, temos a oportunidade de reacender a chama da liberdade que foi acesa em Abril de 1974, avançando rumo a um futuro mais inclusivo onde todas as vozes são ouvidas e valorizadas.

O Caciquismo Empresarial

  Não ergue castelos, mas constrói “hubs”. Não comanda exércitos, mas manipula “recursos humanos” como quem dispõe da criadagem obediente ...